Friday, November 25, 2005

Este rapazinho persegue-me


Em cada esquina, por entre as folhas molhadas e as saraivadas de granizo, este rapazinho persegue-me. Umas vezes vem anunciado o que é: uma exposição de fotografia no Stedelijk Museum, outras vezes é ele só, a olhar de soslaio, para mim. Para mim especialmente, sei-o bem.
À conta deste rapazinho, que cobre tudo o que é parede em Amsterdão, já tive que explicar a uma quantidade de gente o que são forcados, com encenação mímica e tudo, mãos na cintura: "Eh touro, eh touro!"

Nunca fui muito de touradas. Juntamente com o Fado, Futebol e Fátima, foi coisa que não bebi no leite maternal da minha família progressista e dada a esquerdices. Mas há qualquer coisa no olhar deste rapazinho que me fala muito de perto. Se calhar é do exílio, da distância, que tende a romantizar tudo. Desta necessidade, orgulho pateta, em sentir que Portugal está aqui, ao alcance da minha mão enluvada.

Se calhar é só porque ele é muito bonito. O sangue na cara, a jaqueta rasgada, os olhos verdes/castanhos: lembram-me outros homens e outros tempos. Bonito de uma forma familiar. Uma beleza de entranhas, que sinto mais do que vejo.

Ou então é porque sei que, nesta cidade castanha e fria, só muito poucas pessoas podem como eu pedir-lhe a pele emprestada e ver num segundo
a besta furiosa a galope
a respiração suspensa
a plena praça ensolarada.

3 Comments:

Anonymous Anonymous said...

Concordo. Razão: é o twin brother de Reuben!

8:05 AM  
Anonymous Anonymous said...

Gosto de touradas e de toiros nas campinas, gosto de fados e corações despedaçados, gosto de vinho e mentes enebriadas. Gosto de caras rasgadas mas em sorrisos. Tenho pena que o rapazinho não esteja a sorrir ou às gargalhadas por ter conseguido fazer uma pega de jeito. Não será isso aquilo que todos queremos, fazer uma pega de jeito?
Aliás o gajo não passa de um cabrão, tenho a certeza, olhinhos verde/castanho...pff.
Viva nós que somos reais apesar desta virtualidade que me incomoda. No fundo o que eu gosto é de tinta e papel, sangue e carne, olhares doces e meigos, beijos malucos.

9:56 AM  
Blogger Babe said...

Ó marta, quando é que te metes ao papel a sério? Não é por nada, mas é que já ando há quinze anos à espera!
E não vale virar o bico ao prego, e dizeres que também estás à espera de D. Sebastião, que já se sabe que esse não há-de vir e que eu sou demasiado cobarde.

7:56 PM  

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