Tuesday, January 23, 2007

Post Brutamontes e Reaccionário

Hoje o Tiago escreveu-me:

"Faço minhas estas palavras:
É por estas e por outras que o meu partido sempre foi o de votar em BRANCO....! NÃO CONFIO, SEMPRE DESCONFIEI e JAMAIS CONFIAREI nas pessoas e nos partidos que DESGOVERNAM este país... Dizem-me sempre que sou muito critico com o nosso Portugalzinho... mas depois de todo este insulto ao zé povinho, há alguma outra opção??"

Respirei fundo e amainei os pelos eriçados no pescoço. Meti-me a escrever.
Amigo Tiago, aqui fica “outra opção”:

A minha opinião acerca da situação politica em Portugal, refinada nestes quatro anos em que vivo na Holanda, aponta para uma solução muito simples, mas também morosa de instalar e nada popular: implantação do Sentido Cívico Obrigatório. Passo a explicar: enquanto cada português não se capacitar dos seus direitos e deveres como cidadão, não há nada a fazer! Para entender a nossa situação como país, é sempre útil a comparação crítica com outros. Dou-te um exemplo:

O ano passado estive na Síria e na Jordânia. Para além das evidentes semelhanças culturais (árabes, tás a ver? primos dos mouros...), assustou-me ver as semelhanças sociais. A família como núcleo e como solução para tudo, custe o que custar, o machismo a toda a prova, o desinteresse total por questões ambientais, a submissão ao governo. Ok, no que toca à última, devo acrescentar: os gajos vivem em regime de ditadura, há que ser submisso! Mesmo assim as semelhanças de mentalidade politica são arrepiantes. Será que ainda estamos, mais do que imaginamos, com os cornos enfiados no Estado Novo? Receio bem que sim...!

Portugal é ainda semi-tribal: primeiro a minha família, depois a "minha tribo" (amigos e conhecidos), a seguir, talvez, e muito vagamente, a "minha cidade", e lá muito para o fim, essa coisa de país, que não é bem "meu", só para o que me interessa: futebol e caldeiradas no Verão... As pessoas não são incentivadas a tomar responsabilidade, nem querem. Dá muito trabalho. Isso é para os "carolas"! Fugir ao fisco, ao pagamento do parque, conduzir a 150km/h, estacionar nos passeios, em frente às portas dos prédios, deixar lixo na praia, o cocó do cãozinho no chão, isso sim... Começa em coisas muito pequeninas. É uma questão de mentalidade.

A mudança teria de começar com o exemplo das elites e severa punição dos faltosos, que é coisa que em Portugal, nem cheiro! Não há tomates, é o salve-se quem puder, quem vier a seguir a mim que se lixe! Vê-se na afluência às eleições, no consumo desenfreado ("ter" é "ser"), na impávida reacção da populaça aos incêndios florestais, na contínua e impune destruição da costa e das paisagens protegidas, no rol infindo das queixas e lamurias nos media. As pessoas vitimizam-se. Ninguém toma o boi pelos cornos. Ninguém diz: "Foda-se! Esta é a "minha floresta", esta é a "minha rua", este é o "meu país"! Ninguém toma essa responsabilidade.

Na Holanda os políticos andam direitinhos que nem carapaus. Porquê? Serão geneticamente superiores? Não só mais altos, louros, e espadaúdos, mas também intrinsecamente mais honestos? Não! A resposta é simples: estes políticos têm 16 milhões de olhos em cima, a controlar, a ver o que é que eles andam a fazer. Porque as pessoas não só votam, como mantêm contacto com os seus representantes. Não dizem "isso é lá com os senhores...", ou "ah, eu não percebo nada disso...". Não se desprendem das suas responsabilidades como cidadãos, nem se esquecem dos seus direitos. É claro que há corrupção, não é um país de santos, mas é a uma escala muito diferente do que se vê em Portugal. Não há cá pão para malucos. Podem ser umas bestas, estes gajos, brutos como as casas, comerem com colheres e não se saberem vestir, mas ninguém lhes pisa os calos.

Se não se confia nos políticos, porque não fazer o seu trabalho? Porque não saltar para a linha da frente? Não há ninguém melhor que um bom tuga para criticar. Mas para fazer... vai lá tu!
Uma pessoa não tem que se tornar deputada. Há muito a fazer ao nível da nossa comunidade. No nosso prédio, rua, bairro. Não é preciso ir mais longe.
Mas consegues imaginar uma campanha politica a apelar ao Sentido Cívico? A dizer "Vamos ser um país de Cidadãos, vá já pagar o que deve!"? Tá bem tá! É mais estádios, e estradas, e bolos-reis! Circo e Pão! Por isso, Portugueses: NÃO NOS QUEIXEMOS! Icemos nosso rabos e passemos à acção!

2 Comments:

Anonymous Anonymous said...

First of all: I hope I understood well! But if I did, then I think you could find several Dutch journalists that could write this same posting but then with the words 'Portugal' and 'Netherlands' flipped. The role of the family should be a bit less underlined, but that is about it... Cheers,
Joost

2:09 AM  
Anonymous Anonymous said...

Ola Marta,
Encontrei o teu blog por acaso...o meu nome tambem e Marta e tambem vivo em Amesterdao...:-)
Enfim, so para dizer que faco minhas as tuas palavras. Nem mais nem menos. Sabes, as vezes sinto-me sozinha nesta opiniao pouco popular em terras lusas. Um abraco de outra Marta de Amsterdam/Lisboa. Marta (martabfranca@hotmail.com)

10:43 AM  

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