Thursday, January 12, 2006

O fim do mundo


Da janela do comboio vejo um microondas dentro de uma cozinha dentro de um moinho de vento que é um café. A seguir, uma escola de dança. A estação. Uma placa azul a dizer "Delft".
(...)
O tempo é escuro e muito denso. Quanto mais para norte, mais Inverno. Aqui sem o encanto das florestas e das neves brancas. Casas, milhões de pessoas, lama, estradas, a mão do Homem em tudo, em cada esquina, em cada árvore estrategicamente plantada. A Holanda parece-me hás vezes uma arrepiante visão do futuro. Como se o mundo inteiro caminhasse para aqui.
(...)
À minha frente uma rapariga come batatas fritas com maionese. Tenta abrir com os dentes uma garrafa de Fanta. Quase me ofereço para ajudar, mas já vou tarde. Os nossos olhares encontram-se. É embaraçoso. Derrotada, atira com a garrafa para um saco de papel. Volta às batatas.
Olho pela janela opaca e escrevo:

DARK VISION
I'm so scared with the mediocracy of the world. We're all going downhill. We all want microwaves, sugared drinks, new clothes every season. And why shouldn't it be so? Why shouldn't it be the rightful dream of every worker?
I need imported scents, and imported food. A car and a house. Plaintickets three times a year.
It doesn't matter if I'm whearing my grandfather's sweaters and they're thirty years old. I still need my bleached white cotton tampoons every month.
Let's eat more. Cut more trees. Build more houses. The world is going to explode and there's nothing we're going to do about it. We can't stop consuming. We're trapped.

Na estação central, compro um ramo de flores para o meu marido. Como uma sandes de atum. Um sumo ridículo de laranja/morango numa garrafinha de plástico colorida. Creme Nívea. Tampões, branquinhos. Algodões, branquinhos...
A menina da caixa pergunta-me se quero um brinde. "Maybe it's more a man's thing..." Olho, curiosa, para o pacote. O brinde é um molde para fazer gelo na forma de cinco rechonchudas senhoras.
Chama-se ICE BABES.

Estamos todos fodidos.

2 Comments:

Anonymous Anonymous said...

De facto e segundo parece estamos todos fodidos embora me incomode o aspecto perjorativo do termo já que adoro que me fodam, principalmente quando fodo também. Não obstante o presente desabafo acrescento-lhe outro: também quero que me ofereçam flores, aliás porque mereço que até sou óptimo rapaz e um excelente partido.

11:51 PM  
Blogger Babe said...

Se quisesse fazer uma sátira deste teu post podia dizer que o mundo vai todo no sentido dos pastéis de bacalhau, e das ervas daninhas que crescem sem rei nem rock e dos pontões da costa da caparica que não param o mar de destruir as casas clandestinas... sic transit gloria mundae
Acho que sim, Marta, se calhar é mais fácil pensar que, provavelmente, não há nada a fazer!
Que nervos, mulher, não vês que tu é que és o sol?

12:34 PM  

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