Inchaço de coração

Comprei para o Benjamin este Natal uns livros da Sophia de Mello Breyner. Aquela edição quadrada e apetitosa que sempre quis comprar para mim… (agora tenho a desculpa perfeita).
Acabei de ler "A Menina do Mar" em, voz alta.
E o Benjamin adormeceu a meio das aventuras do Rapaz da Casa Branca.
Olho para o meu filho a dormir e sinto vir a onda: um amor e uma agonia que é quase pavor, uma certeza de morte. Desde que ele nasceu que vivo com este inchaço de coração: sempre que o protagonista de uma história é um rapazinho ou canto qualquer coisa com "o meu menino" na letra, sinto isto, que é um misto de alegria e medo, uma coisa estranha. Uma visão do abismo e o voo sobre o abismo.
Deve ser o "sentimento de mãe", nada de racional o explica. É mais ou menos o equivalente ao "sentimento de febre" que eu tinha quando era pequena. Não mostra no termómetro mas está lá.

Qualquer coisa mudou definitivamente nestes sete meses. As portas do meu coração já não fecham bem, empenaram, há sempre uma corrente de ar. E o vento deixa sair o calor, sinto-me constantemente desconjuntada.
Acordada.
Feliz, acho.