O tigre
As manhãs de segunda-feira são especialmente macias em Amsterdão. Não sei ao certo porquê, mas as lojas estão fechadas até ao meio-dia. Ou então, estao semi-abertas, em lentos descarregamentos de camiões gordos atravessados nos passeios. Uma pessoa, mesmo atrasada como eu, sente uma certa calma provinciana no ar, abranda o pé no pedal, demora-se a olhar o pacato despertar do comércio. É como se a cidade se espreguiçasse estremunhada depois de um fim-de-semana de borga. Como se dissesse: "O quê? Já? Aaaaoohhhh....!"
Sei do que estou a falar: sou perita em preguiça. Sou perita em acordar tarde demais. Em fazer mil gestos inúteis, grãos de areia que atrapalham ainda mais a engrenagem da saída de casa. Sou perita em chegar atrasada. Em desculpas, verdadeiras e esfarrapadas, como esta: ontem acabei de ler o "Life of Pi".
Ainda estou a pensar no tigre. Por causa do tigre, tão cor-de-laranja, tão perturbante, fiquei até às tantas acordada, olhos em riste. Nao há sono que vença este tigre.
Penso na neve em Lisboa, ontem. Nas vozes incrédulas dos meus amigos do outro lado da linha. No lindo dia de sol e na mão do meu marido, que me puxou toda a tarde, num passeio estranho: os olhos postos na arquitectura do Oud Zuid, no gelo do Vondelpark, nas ruas sossegadas, a alma toda ela em Lisboa. Na palavra "prosperidade" e na criancinha numero 324 que visitámos depois do passeio. No tigre, outra vez. O tigre, o tigre.
Sei do que estou a falar: sou perita em preguiça. Sou perita em acordar tarde demais. Em fazer mil gestos inúteis, grãos de areia que atrapalham ainda mais a engrenagem da saída de casa. Sou perita em chegar atrasada. Em desculpas, verdadeiras e esfarrapadas, como esta: ontem acabei de ler o "Life of Pi".
Ainda estou a pensar no tigre. Por causa do tigre, tão cor-de-laranja, tão perturbante, fiquei até às tantas acordada, olhos em riste. Nao há sono que vença este tigre.
Penso na neve em Lisboa, ontem. Nas vozes incrédulas dos meus amigos do outro lado da linha. No lindo dia de sol e na mão do meu marido, que me puxou toda a tarde, num passeio estranho: os olhos postos na arquitectura do Oud Zuid, no gelo do Vondelpark, nas ruas sossegadas, a alma toda ela em Lisboa. Na palavra "prosperidade" e na criancinha numero 324 que visitámos depois do passeio. No tigre, outra vez. O tigre, o tigre.