Vai, Hezbollah, vai. Rebenta com essa merda toda. Dá voz aos teus militares iranianos desempregados. Sê a presenca esfarrapada dos Palestinos-sem-terra. Dos Libaneses estraçalhados entre dois mundos. Escondam-se na montanha e entre as criancas assustadas. Morram em pedaços ao lado de um inocente qualquer. Allah espera-vos de bracos abertos. Nao o ouvem? Cinco vezes ao dia, em cantoria desalmada, numa competição feroz de mesquitas? Luz verde estranha, omnipresente nos céus de Aman. No horizonte em Damasco. Ouçam, já recomeça. No quarto do hotel acordo estarrecida. Só a primeira noite, que uma pessoa habitua-se. Uma pessoa habitua-se a tudo.
Na minha cabeca, ainda lá estou. Faz-me falta a chamada para a oração.
Como é que é suposto saber as horas agora?
Como é que é possível estarmos aqui tão sossegados? Tão ignorantes?
No Ikea esta tarde montanhas de holandeses e respectiva prole guinchante compravam colheres de plástico, sofás e regadores. Tanta gente loura é estonteante. Desejei subitamente os miúdos de Hama, que conseguem o milagre de correr e brincar toda a noite sem serem ouvidos. Desejei as noras torturadas em gemidos sexys. As senhoras de véu.
Aqui há tanta cabeca branca, tanto kispo, tanta almondega sueca... Cobras de peluche e edredons.
Do alto salta mais um adolescente para o rio Orontes. Os amigos gritam. As raparigas nem pestanejam. Fumo mais uma passa de tabaco de maçã.
Não sei o que quero... Silêncio? Barulho? Calor? Frio?
Não estou bem onde não estou.
E quanto mais viajo, mais me desfaço.